quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O charme discreto da burguesia

Hoje quando acordou notou que até os cabelos e as pestanas
lhe doíam. Já tinha sido avisado dos malefícios do álcool, mas
você ripostou: "O que faz mal são as misturas, ora eu não misturo
nada com o álcool." Uma das suas decisões para este ano novo foi
de ler mais. Assim, abre pela primeira vez os livros que recebeu
de prenda pelo Natal e com a visão ainda turva começa a folhear...
"Quem foi o caramelo que me ofereceu O condicionamento do
pau para cachimbo no sul da Austrália?"
( Obrigado a Luis Buñuel pelo o título)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Réveillon


A palavra Réveillon é de origem francesa. Vem da palavra "réveil" ou do verbo "réveiller"(acordar). A sua definição é de uma refeição a meio da noite principalmente na véspera do Natal ou do último dia do ano. O sufixo aumentativo "-llon" dá um resultado peculiar que se poderia traduzir em português da Barbárie por "acordanço" ou no imperativo do verbo francês por "acordemos". Assim o primeiro de Janeiro poderia chamar-se "Ressacaillon" ou "Deixemedormirllon".

sábado, 26 de dezembro de 2009

Procrastinação de fim de ano / Procrastination de fin d'année


- Ai os meus triglicérides! Amanhã começo a dieta!
- Querido, amanhã é a passagem de ano!
- Está decidido! Depois de amanhã começo a dieta!
____________________________________
- Aie! Mes triglycérides! Demain je commence un régime!
- Mais chéri, demain c'est la fête de fin d'année!
- Et zut! Après-demain de commence un régime!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um velho cliché / Un vieux cliché

Sob um pretexto de duas tiras de BD sobre Thomas Edison,
alcunhado de "sorcerer" que mais uma vez produzi para um
livro de português quero recordar um outro feiticeiro, velho
autor de "cartoons" americanos. Só os desenhos das tiras são
meus, a ideia veio da autora do manual. Será? Este tipo de
situações "non-sense" foi em grande parte inventado pelo
genial TEX AVERY , um dos realizadores zarolhos de Hollywood
e "pai" de personagens tais como o Droopy, Wolf, Spike, Bugs
Bunny etc... Vi vezes sem conta curta-metragens tais como
"Magical Maestro" e continuo a achar tanta piada como da
primeira vez, e não há nenhum adolescente borbulhento que
não estremeça ao assistir à cena de cabaret em que entram
o vilão Wolf e a espampanante Red. Por muito que uma ideia
seja boa, quando é usada e abusada muita vez acaba por se
tornar um "cliché". Não deixemos, porém de aclamar o senhor
que antes de todos teve a ideia!
Par le biais de deux strips sur Thomas Edison, genial inventeur
que l'on avait surnommé "sorcerer" je voudrais rendre un
hommage à un autre sorcier, cette fois des "cartoons" americains,
le génial TEX AVERY. Il est l'un des pères de l'humour "non-sense"
et de plusieurs de mes personnages préférés comme Bugs Bunny,
Droopy, Spike, Red (la chanteuse de cabaret) et de son admirateur
le loup Wolf. À force d'être utilisée un bonne idée peut devenir un
cliché. Ne nous privons pas, cependant, d'applaudir le monsieur
qui en a eu l'idée.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Descalça vai para a fonte


Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Luís de Camões

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"Vamos às Marias?" / On va voir les filles?


Que saudades eu tenho por vezes do meu tempo de tropa,
daquela sã camaradagem onde a principal questão do dia
era saber onde iríamos encontrar as moças ao fim da tarde.
Empregadas de café, sopeiritas, alunas do magistério,
miúdas do campo, todas paravam nos bailes populares onde
os maçaricos (entenda-se recrutas) repetiam anedotas brejeiras
que faziam corar os garotas. Falava-se das manias das "patroas
e dos "patrões", das notas dos exames, e de sonhos de casamento.
Tudo isto num ambiente malicioso de brincadeira namoradeira
mas com um toque de inocência que me deixa nostálgico.
São 20h00, temos ordem de saída e diz o cadete Andrade
de Britiande com um brilhozinho nos olhos:
" Pessoal, bamos às Marias?"

Legende du dessin: " Si vous n'avez plus besoin de moi ce
soir, je pense aller m'encanailler sous les jupes d'une
gentille péronnelle".

domingo, 20 de dezembro de 2009

Que bom estar em casa! C'est si bon d'être chez soi!


Vem aí uma época em que costumamos passar mais
tempo à mesa, seja para comer, para conversar ou
simplesmente para estar com as pessoas de quem
gostamos à nossa volta.
A Ilustração foi tirada dum livro que ilustrei para
a Cidália Fernandes editado pela Plátano no ano
passado, "As pegadinhas de S. Gonçalo".
Nous sommes à la veille d'une époque de l'année où l'on
passe plus de temps autour de la table que d'habitude;
On mange, on discute ou tout simplement parce qu'on
a autour de soi les personnes qu'on aime.
L'image est tirée d'un livre que j'ai illustré l'année
derniere sur la vie de S. Gonçalo

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Palhaço assassino / Clown assassin

Sempre que vejo um palhaço tenho tendência
a ficar de pé atrás e espírito alerta. Não é que sofra
propriamente de coulrofobia (medo de palhaços), mas a
verdade é que ainda não consegui achar graça a tais figuras,
sobretudo quando se notam rugas inquietantes debaixo
da maquilhagem. Vêm-me logo à mente psicopatas fugitivos,
assassinos diabólicos "à Stephen King", ou uma versão
travestida do "homem do saco" que atrai criancinhas com
doces envenenados. Para mim um circo devia apresentar
garotas trapezistas vestidas de tutu e pouco mais.

Chaque fois que j'ai un clown devant moi, j'ai une sérieuse
tendance à me méfier et rester sur mes gardes. Je ne
crois pas souffrir de coulrophobie, mais la vue la vue de
rides inquiétantes sous leur maquillage me font penser à
des psychopathes fugitifs ou à des assassins en puissance.
(Un peu aussi à ma voisine). à mon avis, un cirque devrait
présenter des jeunes filles trapézistes en tutu et
puis ce serait tout !

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O rei e a corte / Le roi et la cour

Ilustração para um texto cujo nome não me recordo
e que não deve ter certamente nada a ver com o título
pomposo da mensagem.
Illustration pour un texte dont je ne me souviens plus du
nom mais qui ne doit rien á voir avec le titre pompeux du message.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Matemática, meu amor / Mathématique mon amour


-Ilustração do ano passado para um livro de matemática-
O grande Jacques Brel disse certa vez ter passado ao lado
das mulheres no sentido de nunca as ter percebido. Eu posso
dizer o mesmo da matemática. Há uma beleza fascinante
naquela lógica que explica o mundo através dos números.
Lamento agora pena não ter aprofundado esta ciência
(talvez por estar tão virado para a Arte). Voltando ao Brel,
ele não poderia ter sido grande aluno de matemática, pois
as mulheres e a matemática partilham muita coisa:Curvas
promissoras de dores de cabeça em esquemas que só lembra
o Diabo, problemas simples que pedem equações complicadíssimas
e algoritmos complicados que se resolvem com o mais simples
bom senso. A Matemática: não a compreendemos totalmente
mas não podemos viver sem ela!
-Illustration pour un livre de Maths de l'année dernière-
Le grand Jacques Brel a dit un jour être passé à côté des
femmes, de ne pas les avoir totalement comprises. Je puis
dire la même chose des Mathématiques : il y a une beauté
fascinante dans cette science qui interprète le monde avec
des chiffres. Je regrette aujourd'hui ne pas avoir accordé
plus d'attention aux maths. (Trop enclin à l'Art, sans doute).
Quant à Brel, il ne devait pas avoir la bosse des maths non
plus, car il y a tant de choses communes entre la Femme et
cette science : des courbes de diagrammes sinueux qui
annoncent les maux de tête, des problèmes simples qui
demandent des équations tortueuses et des algorithmes
compliqués qui se résolvent avec le plus simple des bons
sens. Les Maths : on ne les comprend jamais totalement,
mais on ne peut pas vivre sans elles !

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Filosofia do sem abrigo

Mais uma ilustração com finalidade escolar. Espero que quando forem
adultos, os putos e alunos de hoje guardem boas lembranças destas
imagens. Eu tenho algumas da minha infância ainda em mente.
Sobretudo dos livros de história. Já ilustrei alguns manuais de
matemática e por isso já devo ter criado algumas inimizades
latentes. Desenhador é uma profissão de risco(s).
Já que a época das festas se aproxima, e que a ilustração se presta
a isso, quero dizer que para além das prendas, das comemorações
e até da Religião, é o tempo de solidariedade. Para muita gente,
a ideia do inferno não assusta pois já o vivem na terra. Ouvi um
dia na TV um sem abrigo despejar cá para fora" Se Deus existe,
é um filho da p..." Pode parecer chocante, mas resume numa frase
alguns séculos de uma certa filosofia...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Camões- De vós não conhecido nem sonhado


Mais tarde ou mais cedo teria de falar aqui do meu álbum BD
"CAMÕES-De vós não conhecido nem sonhado". Durante dois
anos e meio, foi uma verdadeira aventura em que todos os dias
ia avançando lentamente até ao final da prancha 62. Agora que
estou a começar outro projecto, vem-me à mente a imagem
daquela "dechgraçadinha estuberculosa" que abandona o filho
mais velho ao cuidado do convento para poder tomar conta do
mais novo. Mas nada disso... Camões, fica sabendo que te vou
seguir no teu percurso e quero ter a certeza que desta vez
acabas os estudos na faculdade!
Do próximo álbum vou dizer pouco, apenas que desta vez vai
ter colaboração no argumento da flamejante Aida Teixeira
cujos diálogos vão fazer cantar as solteiras e fazer chorar as
casadas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Não chateiem o Bocage!

A certa altura da sua vida, Bocage morou no primeiro andar
dum velho casebre do bairro da Graça. O vizinho do rés-do-
chão, um caçador inveterado, costumava acordá-lo de manhã
ao experimentar as armas e afinar pontaria contra o muro do
quintal. Um dia ao acordar sobressaltado com os tiros, Bocage
mais irritado do que o costume, desfez à martelada o alguidar
cheio da água do banho, o que criou uma inundação no andar
de baixo ao passar pelas frinchas do soalho velho. O vizinho
e a esposa berraram, protestaram, e Bocage respondeu-lhes:
- Não se assustem que não é nada! O vizinho anda todas as
manhãs à caça... eu ando à pesca!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bobo da corte


Antigamente todo o rei tinha um bobo da corte que era a única
personalidade dentro do reino que podia criticar abertamente
o monarca para deleite dos cortesãos e do povo.
Hoje, os bobos são muito menos corajosos, mais bajuladores
e ao lado do dirigente dum país, parecem mais estar a gozar
com o povo, tanto nos comentários como nos próprios actos.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma anedota do Bocage

Já era habitual o Bocage ser convidado para os chás
do comendador Augusto Xavier da Silva, amigo do
da família do poeta. Certa vez o comendador quis
pregar uma partida ao vate setubalense e sem este
saber deu-lhe um chávena de chá a ferver e disse:
- Dá-se um prémio a quem tomar o chá mais depressa!
O Bocage apressou-se a levar á bebida à boca e ao
escaldar-se deixou transparecer uma careta de dor
deixando escapar um ruidoso traque!
Logo exclamou:

"Foge desgraçado,
Que morres escaldado!"


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O corvo e a raposa

É fama que estava o corvo
Sobre uma árvore pousado
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.
Pelo faro, àquele sítio
Veio a raposa matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira:
"- Bons dias, meu lindo corvo,
És glória desta espessura;
És outra fénix, se acaso
Tens a voz como a figura. "
A tais palavras, o corvo,
Com louca, estranha afouteza,
Por mostrar que é bom solista
Abre o bico e solta a presa.
Lança-lhe a mestra o gadanho
E diz: "- Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
À custa de quem o atende.
Esta lição vale um queijo;
Tem destas para teu uso."
Rosna então consigo o corvo
Envergonhado e confuso:
"- Velhaca, deixou-me em branco;
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela. "
-
La Fontaine - Tradução de Bocage





terça-feira, 1 de dezembro de 2009

1º de dezembro- Dia da restauração.


Lenda dos Açores

A lenda da "Ilha das sete cidades" é uma história muito bonita
que relata de uma maneira quase onírica a origem das duas lagoas
da ilha de S.Miguel coladas uma à outra. Uma é azul a outra verde.
Só visto in loco!