sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Indigo eyes

Fire burning in a hill
The lines are rocky rough
Red angles wait to pick remains
The cindered shoulder
Of confused men
Separate from their awe
With grey desire
He looks out mad
His soft grey indigo eyes
Indigo eyes
...

Peter Murphy

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Não quero ver ninguém!

Há já alguns séculos em França, apareceu um termo que começou
por se aplicar a um pequeno salão onde as jovens damas
iam procurar um pouco de privacidade. As birras sem razão aparente,
o amuo persistente e inoportuno e até por vezes o histerismo
irracional foram sempre o apanágio (e porque não dizer o privilégio)
do designado sexo fraco aquando da delicada passagem da
adolescência à fase adulta. Se fosse pobre, mandavam a miúda ir
trata dos porcos; se fosse rica ia para o seu boudoir. A palavra vem
do verbo francês bouder (amuar). Deixavam a rapariga num
pequeno salão sozinha até lhe passar o amuo. Mais tarde o termo
passou também a designar a mobília onde a dama ficava horas a fio
a olhar para o espelho, a pôr pó de arroz no nariz avermelhado pelo
choro e a escrever as suas tristezas num diário. Por vezes
juntavam-se várias choronas amuadas e os segredos partilhados
ajudavam a superar os "infortúnios". Claro que isso incendiou
a imaginação da gente masculina que se perguntava o que diabo
fariam tantas mulheres num espaço tão pequeno a segredar
intimidades. Note-se que a tradição ainda hoje se mantém cada
vez que numa discoteca ou num bar uma delas decide ir à casa
de banho: é logo seguida pelas outras que partem em cruzada de
toilette com risinhos de esquilo já adiantando o prazer de se
encontrarem todas juntas num espaço pequeno onde há sanitas
e espelhos para completar a ilusão de uma doce intimidade
feminina.
Felizmente hoje já existe o boudoir electrónico.

De putamadre!


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Enredo para uma telenovela

Mais um desenho que pertence ao livro da colecção "Chamo-me"
sobre a vida e obra do matemático Pedro Nunes editado pela
Plátano. Penso que sairá já no próximo mês nas livrarias. A cena
representa a filha do sábio português e o respectivo noivo. Ao que
parece, o cavalheiro enamorado quis devolver o frasco depois de ter
aberto o fecho de segurança e assim anular o prometido casamento.
A bela já bastante desabrochada não gostou da reviravolta e pegando
numa adaga decidiu desflorar a beleza do noivo com um grafito
pós-renascentista. Quem não mereceu o melodrama foi o velho
patriarca com os pensamentos já a acariciar uma reforma tranquila
e sem sobressaltos e que se viu entrar numa tramóia inesperada
entre os muros dos tribunais.
Desflorar e desabrochar... dois verbos que nem sempre conjugam
com flores nem com finais felizes.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Olissipo




domingo, 24 de janeiro de 2010

Me love you long time

O termo Mal-Cozinhado é sobretudo conhecido pela alcunha
que Luís De Camões deu ao afamado lupanar da rua da Mancebia
originalmente chamado A Colheita. Segundo o assíduo
frequentador do estabelecimento podia-se chegar a qualquer
hora que se era sempre servido, bem ou mal. (Deixo alguns
segundos à vossa imaginação.) No entanto já parece ter existido
uma tasca com o mesmo nome em Coimbra do tempo em que
o vate se dignou a lá pôr os pés. Ainda no século XIX, dava-se
o nome de Mal-Cozinhado a toda a zona ribeirinha de Lisboa
onde tresandava o peixe frito e onde abundavam tascas e carroças
propondo refeições baratas. Que seja utilizado para a qualidade
da comida ou para a disponibilidade de uma prostituta, ou termo
já está bem vincado na tradição portuguesa e isto há já alguns
séculos. Já não há do bom? Dê-me do suportável.
O título do comentário faz parte do diálogo dum filme
norte-americano. Quem profere a frase é uma prostituta vietnamita.
Quem arrisca o nome do filme?

A ilustração, é claro, tirada do meu album
Camões- De vós não conhecido nem sonhado

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sou sinistro


Como muita boa gente escrevo e desenho com a mão
esquerda. Aí está a origem da palavra sinistro.
Aliás em italiano ainda serve na linguagem diária para
indicar o que é relativo ao lado esquerdo. Os destros
estão em larga maioria; Numa turma de trinta alunos
podemos contar com uma média de 3 canhotos. Assim,
como quem está em minoria é que é diferente, os sinistros
passaram a ser uma aberração da natureza. A tal ponto,
que em certas tribos africanas, a criança que mostrava
inclinação para utilizar a mão esquerda no lugar da direita
podia muito bem ser sacrificada se não mostrasse vontade
de se emendar. Na nossa sociedade ocidental ainda hoje se
tenta influenciar os petizes para não preferir a chamada
mão do demónio. Muitos adultos podem hoje
testemunhar das réguadas levadas na escola e aplicadas
na martirizada mão esquerda. Nas civilizações do médio
oriente e do norte da África onde imperam as condições
do deserto e a falta de água, a utilização da mão esquerda
para comer é totalmente tabu. Já que não há grandes
possibilidades de lavar as mãos antes de comer, só se usa
a direita enquanto a mão esquerda é reservada para limpar
o rabiosque. Não vá por isso mesmo meter a mão no prato
colectivo do cuscus numa tenda no meio do deserto.
Onde terá nascido esse ódio à mão esquerda, desde então
sinónimo de desastrado, de desgraça e de mau augúrio?
Talvez porque o gesto social de cumprimentar apertando
a mão fosse útil para mostrar ao outro que não se pretendia
puxar da espada. Entregava-se o antebraço direito como a dizer:
Vês? não vou desembainhar a arma. Até que um dia apareceu
um canhoto mal disposto com vontade de um passou bem ...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Buckaroo Banzai

O que queres ser quando fores grande? Todos nós já ouvimos
esta pergunta quando éramos petizes. Já no meu tempo de
adolescência quando a maioria queria ser veterinário ou
hospedeira, eu queria ser cantor de ópera; apesar de ter
a vocação, faltava-me o talento. Até que vi um filme intitulado
Buckaroo Banzai. Tudo ficou mais claro! quando fosse adulto
e tivesse de ganhar o meu pão com o suor do meu trabalho
iria ser um novo Buckaroo. O filme era feito daquela massa
com que se cozinha os filmes-culto. O herói, interpretado pelo
enigmático Peter Weller adornado do seu sorriso monalísico
era um cientista de física quântica, explorador intrépido,
piloto de ensaios, detective privado e líder de uma banda rock.
Alguns dirão que é preciso ser de origem extra-terrestre para
se gostar do enredo de tal filme a ponto de o ver mais de uma
vez sem estar atado a uma cadeira de bondage, mas o que é
certo é que ainda hoje me pergunto: O que terá passado na
cabeça do argumentista quando decidiu ir apresentar o seu
script ao produtor. Ainda bem que o fez. Que coragem!
O Peter Weller é hoje professor de História numa universidade
americana e aparece frequentemente em canais TV temáticos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luis De Camões

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O polegar e o cânone de sete cabeças e meia

Certa vez uma amiga minha perguntou-me por que se via
nos filmes (sic) os artistas de polegar levantado e colado
a um lápis a apontar para o modelo. Depois de divagar um
pouco sobre os estereótipos de Hollywood acabei por
tentar explicar a razão pela qual os desenhadores parecem
estar a pedir boleia de lápis na mão. O polegar ajuda a dividir
o lápis em várias secções aos olhos do artista. Assim, ele cria
uma grelha imaginária que coloca à frente do modelo. Será assim
mais fácil na sua mente comparar as proporções que o ajudarão
a pôr o desenho no papel. Tomemos o exemplo de uma figura
de pé: Costumo utilizar o cânone das sete cabeças e meia. Assim,
um corpo normalmente constituído poderá "conter" sete vezes
a medida da cabeça do modelo já apontada no lápis pelo polegar.
E se o modelo se sentar, com quantas cabeças fica de altura?
Basta medir no lápis! Depois virando o lápis na horizontal obtém-se
as linhas verticais da grelha virtual.
Um detalhe tão fora de propósito como um cabelo na sopa:
"polegar" vem de pollicaris que vem de pulex (pulga). Isto devido
ao facto que antigamente(?) era o dedo que se usava para matar
o bichinho saltitante.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aviso: Contém linguagem capaz de ferir algumas susceptibilidades.

Não sou muito de usar linguagem brejeira ou de gíria
popular, mas a origem de certas expressões provocam
curiosidade a qualquer um. Ora aqui apresento um exemplo
deleitoso. Algumas décadas atrás, aquando da grande
vaga de imigrantes portugueses para os Estados Unidos,
os nossos compatriotas recém-chegados tentavam
informar-se da localização de edifícios públicos e repartições
administrativas. A resposta recebida era de que certo
prédio se encontrava on the corner of the main street,
(na esquina da rua principal). Aquilo soava aos ouvidos
lusos como ondaconadamainhestrit, desde então
transformado na conhecida expressão cona da mãe street.
Espero não ter chocado ninguém em demasia, mas
o calão também faz parte da nossa cultura.
Pichtá claro!

domingo, 17 de janeiro de 2010

A princesa e a ervilha

Um conto bem curioso do Hans Christian Andersen. Se bem
me lembro, a mãe de um príncipe desejosa de casar a sua
alteza de filho tentou saber ao certo se uma rapariga bonita
que lhe pediu hospitalidade numa noite de tempestade era
bem de sangue real como ela pretendia. Para ter a certeza,
colocou uma ervilha debaixo de vinte colchões mais uns tantos
eider-edredões e pediu à donzela para lá se deitar e passar
a noite. De manhã perguntou-lhe se tinha dormido bem.
A jovem respondeu com ar contrariado que tinha passado uma
noite horrível, que algo de muito duro lhe magoara as costas
e que estava coberta de nódoas negras. Assim a rainha mãe
declarou que para ser tão sensível a rapariga podia ser
uma verdadeira princesa!
Os contos de fadas nunca são inocentes e este parece realçar
que existem mais diferenças entre um nobre e um plebeu do
que pode parecer à vista desarmada. Logo, é legítimo haver
classes sociais em que uns podem mandar os outros comer
as cascas das batatas que comeram á refeição. antigamente
o termo vilão era usado para designar quem não era nobre.
O sentido deslizou de seguida para quem era feio até ser
hoje o atributo de quem é mau. Quem trabalha a terra é
grosseiro, feio e mau. Ponto de exclamação.
O termo sangue azul vem do facto que os nobres não
apanhavam sol e que as donzelas deviam ser de uma alvura
sem mácula. Assim, a pele diáfana deixava transparecer as
veias que pareciam percorridas por sangue azul.
Sim, podem olhar para as vossas mãos que não está
ninguém a olhar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

A padeira de Aljubarrota

Acto II, cena I- O REGRESSO.
Estou de volta, estoirado e desejoso por voltar ao trabalho
para poder descansar das férias. Respondi, claro, aos comentários
do pessoal e quero felicitar o Refemdabd que descobriu
a resposta à charada. Ainda cheio do espírito romântico da
jornada além fronteiras, coloquei o desenho de um arrufo de
amor entre a nossa Brites de Almeida e o soldado seu
pretendente e futuro marido. Não sei qual dos dois terá
dado mais água pela barba ao outro, mas na noite de núpcias
deve ter havido festa brava! Imagino que deverá ter sido à boa
maneira Viking. Com efeito esse povo mantinha a tradição de que
a noiva devia de resistir ao marido nessa primeira noite juntos ,
com toda a força e violência que pudesse sob pena de ser acusada
de mulher fácil ou de molengona. Se o marido ao romper do dia
aparecesse ao pé dos compinchas para beber o primeiro "crânio"
de cerveja com olhos negros ou arrancados, falhas de pele no couro
cabeludo e rasgos de pele em todo o corpo ainda com pedaços de
unhas partidas, a noiva podia sair da tenda nupcial com a cabeça
erguida! Tínhamos ali uma mulher séria e verdadeira Viking!
A Brites nasceu em Faro e era bem portuguesa. Os espanhóis
que o digam, a nossas tugasitas não são nada papa-açorda!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Yahoo!

17 graus negativos esta noite e tenho pela frente um
inesperado teclado azerty! Que desespero! Tenho de ser
breve antes de andar às cabeçadas ao aparelho. O desenho
representa um Yahoo; Aproveito assim a personagem das
Viagens de Gulliver para responder à pergunta da mensagem
anterior.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Bruxa é bom ; Fada é melhor

Vou estar fora por uns dias e este blog é capaz de andar à deriva
durante o curto período em que vou visitar o maravilhoso mundo
das bruxas, das fadas, dos castelos encantados e das mansões
assustadoras. Durante o doce exílio vou mandar a resposta
à pergunta que faço agora aos meus caros visitantes:
Qual é a conhecida marca alemã de electrodomésticos escondida
no título desta mensagem ?
Até breve!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sexo em tempo de Vitória

Na sequência do tema "Maravilhas da Natureza" vou contar um
facto anedótico que acontecia frequentemente na Inglaterra
vitoriana. As jovens inglesas solteiras, estavam destinadas
a casar relativamente cedo. Eram guardadas em redoma de vidro,
ignorando totalmente tudo do acontecimento carnal na noite de
núpcias. Maids puras e virginais viviam num sonho de príncipes
encantados assexuados e de histórias de cavaleiros andantes que
preferiam morrer a ver inadvertidamente o tornozelo casto de
uma donzela. Na dita noite de núpcias era remédio santo: A mãe
da noiva chamava aparte a ingénua ao primeiro andar e enquanto
o noivo se embebedava no rés-do-chão com o resto dos convidados
abria o livro da sexualidade onde de repente e em poucos minutos
a desgraçada da garota ficava a saber os detalhes mais sórdidos do
que lhe ia acontecer dentro de poucos minutos. As prometidas (ainda
de boneca na mão) ficavam a maior parte das vezes histéricas
e desatavam aos berros. Uma boa bofetada da mãe fazia efeito de
Xanax e esta última levava a adolescente desorientada e em lágrimas
para o quarto. Quando o noivo finalmente cedia aos incentivos de um
bando de bêbados sedentos por gritos de desfloração selvagem, subia
a cambalear pela escada, entrada em triunfador pelo boudoir adentro
e encontrava a sua prometida a roncar docemente. No chão, um
pedaço de algodão encharcado em clorofórmio. Ao lado da dama
um papelinho com uma letra trémula a dizer: "A mamã disse para
fazer comigo o que quisesse."

O menino da rádio

Estávamos no ano de 1934 quando se ouviu pela primeira
vez no cantante a voz esganiçada do menino Tonecas articulando
em falsete os diálogos do humorista José Oliveira Cosme.
Em 1947 vinham para o ar os "Parodiantes de Lisboa".
Só comecei a ouvir as piadas radiofónicas nos anos 70 e confesso
que muitas delas não tinham grande graça. Porém hoje fazem-me
lembrar os domingos em família, o borbulhar do almoço dentro
da panela e uma época que jamais reviverei e que deixa saudades.
Naquela altura a televisão ainda pouco mais era que um suporte
para napperons e o que nos divertia vinha das ondas hertzianas.
Patilhas e Ventoínha, daqui mando um adeus saudoso.
Video killed the radio stars

domingo, 3 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa, o menino da sua mãe


Fernando Pessoa é daquelas personalidades que me fascinariam
mesmo se só tivesse escrito a lista de ingredientes no papel dos
rebuçados para a tosse. Aliás, ele ainda perscrutou o mundo da
publicidade. Que visão ele teria tido numa agência publicitária
moderna! É dele o slogan para a Coca Cola "primeiro estranha-se,
depois entranha-se". Fernando viveu rodeado de mulheres
e estou a falar da sua mãe, irmã, tias e avó. Tendo sempre em casa
da família um porto de abrigo, pôde assim viver de excessos em
toda liberdade. Foi essa mesma querida liberdade que pôs a tão
afável Ofélia a nadar em seco. Mas Fernando Pessoa teria
ele sido o mesmo se não tivesse levado a vida descuidada e sem
responsabilidades que levou? Certamente que não. Mas também
não teria tido um vida tão meteórica e tão curta. Quando era
empregado de escritório Pessoa ia muitas vezes beber a bica(?) com
o seu patrão e amigo ao Martinho da Arcada ou à tasca do Abel.
Face à valsa de copos de vinho e de aguardente que passavam
a trote pela mesa, o amigo terá exclamado: "Fernando, você bebe
como uma esponja". Este último respondeu: "Não, eu bebo como
uma fábrica de esponjas com um anexo ao lado."