A primeira vez que vi o filme "O exorcista" foi já no pequeno ecrã e durante
o meu serviço militar. O filme já carregava tanta fama que quase toda a minha
geração que na altura da sua saída não o tinha visto no cinema estava por
volta da meia-noite a postos em frente à caixa mágica ( termo usado na
Papuásia para designar a televisão). A fita não desiludiu. A realização esteve
fantástica e abriu caminho para um novo género de terror, sem fazer o
espectador saltar da sua cadeira com efeitos fáceis, mas com um travelling
de câmara suave e que produz um efeito de ansiedade gradual e mais
eficaz, do que aparecer de repente uma cara de palhaço assassino em frente
ao espectador. Sonhei várias noites seguidas com o filme, com a cumplicidade
da minha imaginação que punha mais um pouco de molho nas sequências mais
apetitosas. No dia a seguir à difusão, estive de serviço de Oficial de dia no quartel
e juntamente com o furriel fomos fazer a ronda e cumprimentar as sentinelas...
em alguns cantos muito mal iluminados onde se encontravam as guaritas.
Eu tentei a minha melhor imitação do "fuck me! fuck me!" em voz gutural da
Linda Blair numa noite sem lua, frase que ela imortalizou ao enfiar um crucifixo
no "bocal". Foi má ideia:Primeiro porque ia levando um tiro do sentinela
aterrorizado e que tinha visto o filme, e depois porque o furriel e eu tivemos
de correr atrás do fugitivo afim de tentar lhe devolver a G3 abandonada junto
à guarita e julgada uma arma ineficaz contra as forças do demoníacas mas que
atrapalha muito quando se foge.