segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Aquela feia


Eu gosto muito mais daquela feia
Há nela um grande amor que não tem fim
É minha essa afeição com que me enleia
E sente um certo orgulho até por mim
Despreza os artifícios de beleza
Limita-se a ser feia e muito minha
Não pensa em jóias raras de princesa
E não se julga ao espelho, uma rainha.
As outras, as bonitas, são perigosas
Faziam-me ciúme a vida inteira
São sempre mais senhoras, mais vaidosas
E sabem que têm muito quem as queira.
Dão sempre aos seus afectos, mais valor
E até os bons caprichos valorizam
Chegando muitas vezes a supor
Que a gente há-de beijar o chão que pisam.
Se o pobre coração é um vassalo
Do belo que perturba e nos enleia
Será questão de gosto, mas deixá-lo
Eu gosto muito mais daquela feia
(Frederico De Brito; Júlio Proença)