Nada mais pitoresco do que o português em viagem. Não estou a falar
de caravelas, nem de descobrimentos. Estou a lembrar-me daquelas
viagens de autocarro ou de camionetas regionais em que se destaca
o farnel português. Enquanto as outras nacionalidades transportam
sanduíches que cabem num bolso e no buraco de um dente, o bom
português não se acanha, onde quer que esteja, em tirar a tampa do
tacho para deixar exalar o bom odor de uma feijoada ou de umas
boas carnes fumadas como só se fazem na nossa terra. E o nosso vinho
mesmo carrascão, parece que dá alegria a quem está à volta só de ouvir
a rolha a saltar. Várias vezes assisti a cenas destas, onde viajantes do
norte da Europa se viram a provar carnes de partes do porco de que
nunca tinham ouvido falar, e a beber com franco gosto, vinhos cujo nomes
soa a gargarejos perante um ouvido escandinavo. Contrariamente
ao que se diz, o povo português não é triste: É que a tristeza, por vezes,
é muito parecida com a alegria dos pobres.