terça-feira, 2 de março de 2010

Despejaram um penico na cabeça do Bocage.

Antigamente ouvia-se gritar Água vai quando alguém
despejava o penico na rua quando o ar de casa começava
a cheirar à época dos saldos nos lupanares. Uma noite que
Bocage passeava numa rua estreita e que o frugal jantar
lhe deu a volta às tripas, arreou as calças, afastou o gibão
e toca de moldar um bronze. Uma menina do primeiro andar
que tinha na cabeça um toucado, esqueceu-se de avisar os
transeuntes quando verteu do penico uma mistela de
mijo e merda, como que baptizando assim o poeta.
Bocage, apanhado com as calças na mão e apontando para
a sua escultura ainda fumegante no chão disse:

- Ó menina do toucado,
Já que tem a mão tão certa,
Venha buscar a oferta
Que ficou do baptizado!


Desenho extraído de Chamo-me Bocage, ed. Didáctica