Só o título desta mensagem já terá feito ranger os dentes a alguns
de vós; Lembranças desagradáveis de liceu, testes, exames, horas
a fio a remoer a mesma página com o pensamento: "Ainda falta ler
isto tudo?" Certos livros têm de ser lidos já depois do tempo de
estudante, já com mais maturidade, com com calma e sem essa
obrigação que no adolescente funciona como um repelente ao que
se lhe põe à frente. Os Maias é uma dessas obras que merece ser
relidas. O argumento, se se retirar as figuras de estilo, o contexto
histórico, o talento de narração, até podia ser o guião para uma
telenovela barata sobre amores e incesto. Felizmente Os Maias
são dois calhamaços magistralmente escritos com uma centelha
de génio. Se retiramos a penas a um pavão o que fica no final?
Um galináceo. No entanto são esses ornamentos que lhe dão
aquele panache, aquele andar emproado, aquelas poses de
fidalguia.
Faça o teste do pavão à esplanada dum café. Escolha uma
garota especialmente vistosa e garrida. Retire-lhe (mentalmente!)
a tinta da cabeça, o blush, o rímel, os saltos altos, os collants,
os berloques de bijuteria, devolva-lhe o buço discreto etc...
O que fica? Se a imaginar com um vestido preto e o cabelo
apanhado terá a surpresa de voltar a "ver" uma moça de aldeia
simples e acanhada como nas fotos dos nossos avós.
E que giras que eram as nossas labregas de antigamente!