Um conto bem curioso do Hans Christian Andersen. Se bem
me lembro, a mãe de um príncipe desejosa de casar a sua
alteza de filho tentou saber ao certo se uma rapariga bonita
que lhe pediu hospitalidade numa noite de tempestade era
bem de sangue real como ela pretendia. Para ter a certeza,
colocou uma ervilha debaixo de vinte colchões mais uns tantos
eider-edredões e pediu à donzela para lá se deitar e passar
a noite. De manhã perguntou-lhe se tinha dormido bem.
A jovem respondeu com ar contrariado que tinha passado uma
noite horrível, que algo de muito duro lhe magoara as costas
e que estava coberta de nódoas negras. Assim a rainha mãe
declarou que para ser tão sensível a rapariga só podia ser
uma verdadeira princesa!
Os contos de fadas nunca são inocentes e este parece realçar
que existem mais diferenças entre um nobre e um plebeu do
que pode parecer à vista desarmada. Logo, é legítimo haver
classes sociais em que uns podem mandar os outros comer
as cascas das batatas que comeram á refeição. antigamente
o termo vilão era usado para designar quem não era nobre.
O sentido deslizou de seguida para quem era feio até ser
hoje o atributo de quem é mau. Quem trabalha a terra é
grosseiro, feio e mau. Ponto de exclamação.
O termo sangue azul vem do facto que os nobres não
apanhavam sol e que as donzelas deviam ser de uma alvura
sem mácula. Assim, a pele diáfana deixava transparecer as
veias que pareciam percorridas por sangue azul.
Sim, podem olhar para as vossas mãos que não está
ninguém a olhar.