sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sou sinistro


Como muita boa gente escrevo e desenho com a mão
esquerda. Aí está a origem da palavra sinistro.
Aliás em italiano ainda serve na linguagem diária para
indicar o que é relativo ao lado esquerdo. Os destros
estão em larga maioria; Numa turma de trinta alunos
podemos contar com uma média de 3 canhotos. Assim,
como quem está em minoria é que é diferente, os sinistros
passaram a ser uma aberração da natureza. A tal ponto,
que em certas tribos africanas, a criança que mostrava
inclinação para utilizar a mão esquerda no lugar da direita
podia muito bem ser sacrificada se não mostrasse vontade
de se emendar. Na nossa sociedade ocidental ainda hoje se
tenta influenciar os petizes para não preferir a chamada
mão do demónio. Muitos adultos podem hoje
testemunhar das réguadas levadas na escola e aplicadas
na martirizada mão esquerda. Nas civilizações do médio
oriente e do norte da África onde imperam as condições
do deserto e a falta de água, a utilização da mão esquerda
para comer é totalmente tabu. Já que não há grandes
possibilidades de lavar as mãos antes de comer, só se usa
a direita enquanto a mão esquerda é reservada para limpar
o rabiosque. Não vá por isso mesmo meter a mão no prato
colectivo do cuscus numa tenda no meio do deserto.
Onde terá nascido esse ódio à mão esquerda, desde então
sinónimo de desastrado, de desgraça e de mau augúrio?
Talvez porque o gesto social de cumprimentar apertando
a mão fosse útil para mostrar ao outro que não se pretendia
puxar da espada. Entregava-se o antebraço direito como a dizer:
Vês? não vou desembainhar a arma. Até que um dia apareceu
um canhoto mal disposto com vontade de um passou bem ...